quinta-feira, 30 de junho de 2011

Briga de Alemães

Há pouco mais de um mês atrás, fui passar uma noite a beira do mar Alemão. Pra quem não sabe, a Alemanha só tem conexão com o oceano pelo norte do país. Essa conexão é dividia ao meio pela conexão com a Dinamarca. O que fica a esquerda da Dinamarca é chamado de Nordsee, e a direita é chamado de Ostsee. Pois bem, fui ao Ostsee. Uma cidadezinha chamada Heiligendamm, num hotel 5 estrelas onde há alguns anos aconteceu o encontro do G8. Fui convidado por um Alemão (que aqui vou chamar de A., pra facilitar), claro, afinal ainda não tenho como bancar uma viagem de luxo. E fomos de moto.
Passamos uma noite, na manhã seguinte tomamos nosso Frühstück, fechamos a conta: 712 Euros para duas pessoas. Conta paga, a recepcionista agradeceu, nos deu balinhas de presente, etc... E no final de toda essa mise-en-scène, ela diz para o A., num tom super natural: "Ah, é o senhor que está de moto? Ontem tivemos um pequeno acidente, um de nossos funcionários derrubou a sua moto. Se o senhor puder esperar, eu vou chamar o gerente e ele vai conversar com o senhor pessoalmente." E ela falou tudo isso com a mesma cara de aeromoça simpática de sempre.
Chegamos perto da moto, alguns arranhões, nada muito sério, problemas estéticos. O A. estava putíssimo e com razão, afinal tinha acabado de gastar 700 euros num hotel de luxo e descobriu que tinham derrubado sua moto na noite anterior e ninguém falou nada com ele. E vale ressaltar aqui que ele é louco por motos, e pela sua moto então... Mas daí que o gerente chegou, eles conversaram totalmente amigáveis, num tom de voz calmíssimo e super cordiais um com o outros. O A. soltava de vez em quandíssima uma ironia. O gerente se desculpou em nome do hotel, explicou que seria impossível questionar todos os hóspedes de quem era aquela moto, e que o seguro pagaria tudo, etc.
Então o gerente saiu para providenciar a papelada, e o A. estava simplesmente puto. Dizia que era um absurdo, que estava decepcionado, etc, etc, etc. Mas tudo de uma forma muito contida e civilizada. E eu pensava cá comigo: se fosse eu, já estaria gritando e estapeando alguém! Rodando a baiana, dando bafão...
Engraçado isso, essa diferença. A frieza dos Alemães se manifesta em qualquer sentimento, seja amor ou ódio. Brasileiros são barraqueiros, gritam, fazem confusão. Alemães são calmos e civilizados. Não sei se isso é vantagem ou desvantagem. Só sei que é bem diferente.
A papelada foi providenciada, os dois apertaram as mãos e nós fomos embora. E nunca mais se falou sobre o assunto.