terça-feira, 24 de maio de 2011

"Quem fala demais dá 'bom dia' a cavalo"

Metrô de Berlin, numa segunda-feira qualquer. Senta ao meu lado um grupo de brasileiros, um cara e cinco meninas. Riam e falavam alto, em bom português. O cara falava mal de todo mundo e as meninas riam e comentavam.
"Nossa, que bolsa baranga. Essas Alemãs, meu deus do céu... Não tem nenhum senso de moda. E aquela ali, com um cabelo metade rosa, metade loiro, metade raspado? Cruzes! Só tem doidão nessa cidade. Doidão e baranga. Isso sem falar o tanto de turco!"
E assim foi, por alguns minutos. Até que ele me olhou e me escolheu como alvo.
"Ah nem, viu! Eu venho do Brasil esperando pra ver homens altos, loiros, magros... E vejo isso! Um cara baixinho, gordinho, moreno e de cabelo escuro. Deve ser turco. Se eu quisesse ver turcos, eu ia pra Istambul! Decepcionado... Esperava mais da Alemanha. E as roupas? Nada combinando com nada! Amigo, se você passasse uma tarde comigo eu te daria umas aulinhas de moda. Porque vamo combinar, tá precisando hein. Banho de loja, corte de cabelo..." E assim foi, por pelo menos uns bons 10 minutos.
Chega a minha estação, e eu viro pra ele e digo em um Português limpo, claro, perfeito e polido "Você pode me dar licença, por favor, que eu preciso descer?" Ele ficou pálido, e suas amigas se dobravam de rir. Ele tentou gaguejar alguma coisa e eu disse somente "obrigado" e fui até a porta. A porta se abriu, eu virei pra trás e disse "aproveite Berlin, você vai gostar daqui." E segui meu caminho.

sábado, 14 de maio de 2011

Amor, Love, Liebe... E o que se perde na tradução.

Talvez a experiência mais inusitada que vivi até agora em outro país foi a de me envolver com alguém. Dizem que a linguagem do amor é universal, mas sou obrigado a discordar dessa afirmativa. Depois de 2 meses e meio em Berlin, percebi que ter um relacionamento por aqui é uma tarefa difícil, ainda mais para um Brasileiro.
Venho de um país onde as pessoas são calorosas e intensas. Gostam de abraçar, se apaixonam a primeira vista, em questão de dias já estão envolvidos até o pescoço com o outro. No Brasil, as pessoas se olham, flertam, conversam umas com as outras. Em Berlin é outra história. Aqui as pessoas são frias, secas e individualistas. Pelo menos no primeiro contato. E o jeito "brasileiro" de ser assusta, e assusta muito aos alemães. Flerte em balada acontece, mas não é como eu estou acostumado. É uma coisa mais formal e mais fria. E o jeito mais fácil de conseguir alguém por aqui é por um website chamado GayRomeo, seja para uma simples trepada, seja para casar e construir uma vida. Todo gay aqui tem um perfil no site, e é lá que eles se soltam... Algo tão impessoal e ao mesmo tempo tão indispensável para eles.
A língua é outra barreira. Eu ainda não falo muito bem Alemão, e gente que fala Português por aqui é algo raro. Mesmo Português de Portugal. Então as conversas tem de ser desenvolvidas em Inglês. Da pra imaginar a confusão, afinal essa não é a língua materna de nenhum dos dois lados - nem eu nem eles. É óbvio que muito se perde na tradução. Talvez por não saber uma palavra, talvez por não saber como se expressar. Ou talvez pelo simples fato de tentar dizer algo e o outro entender um algo completamente diferente. Algo comum em uma comunicação, e que pode ser severamente agravado em uma comunicação estrangeira.
O background é mais um fator que pode ajudar ou atrapalhar tudo. Se dois brasileiros podem ter backgrounds completamente diferentes, imagine um brasileiro e um alemão... Coisas e ações que para mim são normais e perfeitamente compreensíveis, podem ser completamente anormais para eles. E aqui volto a bater na tecla de como os brasileiros são intensos e calorosos. Com meu último namorado, em uma semana juntos já estávamos namorando, conhecendo os amigos e as famílias e trocando juras de amor. Aqui talvez você passe uma vida inteira com alguém sem que nada disso aconteça. E isso é normal pra eles. E se você falar cedo demais em paixão, relacionamento, compartilhar, prepare-se para que eles te olhem com a cara de interrogação e te cortem com um balde de água fria. Isso num cenário positivo, pois pode acontecer do alemão se assustar e sair correndo. E nunca mais te dar notícias.
Por um lado, tenho tido extrema dificuldade em me adaptar a esse estilo de vida afetiva. Eu sou um cara romântico e carinhosos, gosto de fazer o cara que está comigo feliz, gosto de dar presentes, fazer surpresas. E parece que por aqui isso é mais um defeito que uma qualidade. Mas por outro lado, eu já estou começando a entender a forma dos alemães lidarem com o coração e talvez já esteja sendo absorvido pelo sistema deles. Vejo meus amigos brasileiros me falaram sobre paixões instantâneas e avassaladoras no primeiro encontro e já tem uma parte de mim que me diz "que absurdo, no primeiro encontro?" Até uns dias eu era assim. E agora eu tenho que jogar de acordo com as regras daqui. E tem horas que eu até penso que faz algum sentido.
Ainda tenho muito a aprender por aqui, mas nem tudo está perdido. Dizem que o sonho de todo alemão é se casar com um brasileiro. Que eles procuram nos brasileiros o que eles não encontram nos outros alemães. Pode ser que a melhor ideia é me adaptar ao jeito daqui, sem perder o meu jeito de lá. Ser um meio termo entre o alemão e o brasileiro, tentando preservar as melhores características dos dois lados. Porque acima de tudo, eu não quero mudar. Eu não quero deixar de ser um cara fofo e carinhoso. Então o melhor caminho pra mim é continuar sendo o brasileiro intenso, mas com meus momentos de alemão frio e distante. E aprender essa língua logo, pra derrubar mais uma barreira.
Na verdade, ainda tenho muito pra aprender e percorrer aqui. Ainda estou no começo da caminhada. E se vai dar tudo certo? Não sei, isso só o tempo vai dizer.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Só uma partida de futebol. Ou não.

Desde que cheguei a Berlin, tenho pensado sobre a escolha de um time de futebol para torcer. Sou torcedor do Galo no Brasil e da Seleção da Alemanha no mundo. Mas na Bundeslinga (a liga nacional de futebol alemão) eu ainda não tinha um time. E como adotei Berlin como minha cidade, nada mais justo que torcer para um time de Berlin. Escolha feita, sou torcedor do Hertha BSC.
Não vou entrar em pormenores da história do time (porque na verdade eu não sei), mas pra quem quiser se inteirar do assunto: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hertha_Berliner_Sport-Club (pt) e http://en.wikipedia.org/wiki/Hertha_BSC (en). Acho importante ressaltar que o Hertha atualmente está na segunda divisão, mas já garantiu a vaga para a primeira divisão no próximo ano. Também acho importante destacar a paixão dos alemães pelo futebol. Dizem que o Brasil é o país do futebol, mas depois que cheguei aqui fiquei um pouco na dúvida sobre isso. Acho que a paixão aqui é tão grande como no Brasil. Mas claro, eles a manifestam de uma forma bem alemã de ser: comportados, frios e organizados.
Pois bem, na semana passada fui ao meu primeiro jogo de futebol desde que estou em Berlin. Pela primeira vez no Olympiastadion - o estádio olímpico de Berlin - e pela primeira vez num jogo do meu recém amado clube Hertha. E foi o primeiro jogo do Hertha em casa, desde que eles garantiram a subida para a primeira divisão. A experiência foi muito interessante, e devo dizer, completamente diferente de ir a um jogo no Brasil. A principal razão, acredito eu, é por ter sido convidado por um amigo para a área vip do estádio. Sim, o estádio tem uma área vip. Mesmo para um jogo de segunda divisão, existe uma área vip com um tratamento vip.
Desde antes da entrada no estádio as coisas já são diferentes. Engarrafamento de carros em direção ao estádio, mas de uma forma organizada. Estacionar os carros e/ou motos com segurança e sem os flanelinhas enchendo o saco. Buscar os ingressos já comprados pela internet ou mesmo comprar ingressos, tudo em filas organizadas. No caso dos ingressos da internet, as filas são divididas por nomes. Ao entrar no estádio, pessoas te revistam mas sem estresse. O caminho até o local onde está o assento (sim, assentos marcados em setores definidos!) é tranquilo, sem torcedores brigando ou criando confusão. E na hora de entrar na área vip, pulserinhas.
Para antes e/ou intervalo do jogo, existe um restaurante com mesa de frios, pratos quentes e diversas bebidas: água, alcoólicos, não alcoólicos, cafés variados... Os banheiros parecem banheiros de shopping: Limpos e cheirosos. Dificil de acreditar que estava em um estádio de futebol. Pelo menos nos estádios em que eu estava acostumado.
Talvez o que não seja muito diferente é a paixão durante o jogo. O grito da torcida, as comemorações, ver a torcida balançando e vibrando a cada jogada. O Hertha perdeu de 2 a 1, mas valeu pela experiência. E valeu também o por do sol, depois do jogo, atrás do Olympiastadion.