Mostrando postagens com marcador Falando Alemão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Falando Alemão. Mostrar todas as postagens

sábado, 14 de maio de 2011

Amor, Love, Liebe... E o que se perde na tradução.

Talvez a experiência mais inusitada que vivi até agora em outro país foi a de me envolver com alguém. Dizem que a linguagem do amor é universal, mas sou obrigado a discordar dessa afirmativa. Depois de 2 meses e meio em Berlin, percebi que ter um relacionamento por aqui é uma tarefa difícil, ainda mais para um Brasileiro.
Venho de um país onde as pessoas são calorosas e intensas. Gostam de abraçar, se apaixonam a primeira vista, em questão de dias já estão envolvidos até o pescoço com o outro. No Brasil, as pessoas se olham, flertam, conversam umas com as outras. Em Berlin é outra história. Aqui as pessoas são frias, secas e individualistas. Pelo menos no primeiro contato. E o jeito "brasileiro" de ser assusta, e assusta muito aos alemães. Flerte em balada acontece, mas não é como eu estou acostumado. É uma coisa mais formal e mais fria. E o jeito mais fácil de conseguir alguém por aqui é por um website chamado GayRomeo, seja para uma simples trepada, seja para casar e construir uma vida. Todo gay aqui tem um perfil no site, e é lá que eles se soltam... Algo tão impessoal e ao mesmo tempo tão indispensável para eles.
A língua é outra barreira. Eu ainda não falo muito bem Alemão, e gente que fala Português por aqui é algo raro. Mesmo Português de Portugal. Então as conversas tem de ser desenvolvidas em Inglês. Da pra imaginar a confusão, afinal essa não é a língua materna de nenhum dos dois lados - nem eu nem eles. É óbvio que muito se perde na tradução. Talvez por não saber uma palavra, talvez por não saber como se expressar. Ou talvez pelo simples fato de tentar dizer algo e o outro entender um algo completamente diferente. Algo comum em uma comunicação, e que pode ser severamente agravado em uma comunicação estrangeira.
O background é mais um fator que pode ajudar ou atrapalhar tudo. Se dois brasileiros podem ter backgrounds completamente diferentes, imagine um brasileiro e um alemão... Coisas e ações que para mim são normais e perfeitamente compreensíveis, podem ser completamente anormais para eles. E aqui volto a bater na tecla de como os brasileiros são intensos e calorosos. Com meu último namorado, em uma semana juntos já estávamos namorando, conhecendo os amigos e as famílias e trocando juras de amor. Aqui talvez você passe uma vida inteira com alguém sem que nada disso aconteça. E isso é normal pra eles. E se você falar cedo demais em paixão, relacionamento, compartilhar, prepare-se para que eles te olhem com a cara de interrogação e te cortem com um balde de água fria. Isso num cenário positivo, pois pode acontecer do alemão se assustar e sair correndo. E nunca mais te dar notícias.
Por um lado, tenho tido extrema dificuldade em me adaptar a esse estilo de vida afetiva. Eu sou um cara romântico e carinhosos, gosto de fazer o cara que está comigo feliz, gosto de dar presentes, fazer surpresas. E parece que por aqui isso é mais um defeito que uma qualidade. Mas por outro lado, eu já estou começando a entender a forma dos alemães lidarem com o coração e talvez já esteja sendo absorvido pelo sistema deles. Vejo meus amigos brasileiros me falaram sobre paixões instantâneas e avassaladoras no primeiro encontro e já tem uma parte de mim que me diz "que absurdo, no primeiro encontro?" Até uns dias eu era assim. E agora eu tenho que jogar de acordo com as regras daqui. E tem horas que eu até penso que faz algum sentido.
Ainda tenho muito a aprender por aqui, mas nem tudo está perdido. Dizem que o sonho de todo alemão é se casar com um brasileiro. Que eles procuram nos brasileiros o que eles não encontram nos outros alemães. Pode ser que a melhor ideia é me adaptar ao jeito daqui, sem perder o meu jeito de lá. Ser um meio termo entre o alemão e o brasileiro, tentando preservar as melhores características dos dois lados. Porque acima de tudo, eu não quero mudar. Eu não quero deixar de ser um cara fofo e carinhoso. Então o melhor caminho pra mim é continuar sendo o brasileiro intenso, mas com meus momentos de alemão frio e distante. E aprender essa língua logo, pra derrubar mais uma barreira.
Na verdade, ainda tenho muito pra aprender e percorrer aqui. Ainda estou no começo da caminhada. E se vai dar tudo certo? Não sei, isso só o tempo vai dizer.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ich komme aus Brasilien

Essa frase provoca reações por aqui. Geralmente ela é pronunciada - por mim - em uma mesma situação: eu estou gagejando algo que se parece com Alemão. A pessoa, ao perceber que eu não falo muito bem a língua, me pergunta de onde eu venho. E eu respondo: Ich komme aus Brasilien. Ou eu venho do Brasil.
As reações são as mais diversas: alguns me olham espantados, como se eu tivesse acabado de descer de um disco voador. Talvez porque aqui eles estão acostumados a ver gente da União Européia, dos Estados Unidos, dos países árabes (tem MUITOS turcos em Berlin), asiáticos, latinos. Também tem muitos brasileiros aqui, mas acho que os alemães de Berlin eles não sabem muito sobre o Brasil. É uma realidade distante da deles. Geralmente os que não tem olham com cara de ET fazem algum comentário sobre samba, futebol ou praia. Ou tudo isso junto.
Outros simplesmente não ligam. Ah, você é mais um que veio tentar a vida em Berlin. Muita gente vem tentar a vida aqui. É uma das cidades mais baratas pra se viver na Europa, quando se trata das principais e mais conhecidas cidades. Viver em Berlin é incrivelmente mais barato que Londres e Paris, e completamente mais interessante que Roma, Madrid e Lisboa. Aqui é a cidade dos artistas, dos pirados, dos musicos... Pichação e grafite fazem parte da decoração da cidade, e todo mundo acha isso cool. Hippies que vivem de vender artesanato, artistas que tocam no metrô em troca de moedas... Todo dia chega mais alguem querendo viver aqui.
Muita gente já me disse que é uma cidade pobre e sempre em movimento. Não da pra ganhar muito dinheiro por aqui, e sempre tem gente chegando e gente saindo. Quem sai vai tentar a vida em outro lugar, porque aqui já não deu mais... Mas não dá pra generalizar, quando se trata de um lugar tão grande e policultural como Berlin.
Eu acabei de chegar, ainda sou um turista. Mas de vez em quando me pego dando informações de ruas e lugares. Algumas vezes em meu Alemão macarrônico. Mas devagarzinho a cidade vai me incorporando, e jajá eu viro parte disso aqui. Como as pedras, as árvores, o rio Spree, a Fernsehturm. E como tudo aqui é lindo... Mas isso eu ainda vou contar. Por agora, só preciso completar a frase:
Ich komme aus Brasilien. Aber jetzt wohne ich in Berlin.