segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Fatos curiosos sobre Berlin

- Nao existe supermercado 24h em Berlin. E isso nao é tudo: eu só conheco UM supermercado que abre aos domingos - O Ullrich da Zoologischer Garten. Ele abre todo domindo até as 22h. Em contrapartida, lojas de conveniencia e - pasmem! - locadoras de video funcionam normalmente aos domingos. Da pra ficar com fome, mas nao da pra ficar sem assistir filme.

- Falando de domingo, ontem eu passei em uma loja na hauptbahnhof pra trocar uma blusa e havia uma fita fechando a secao de roupas femininas da loja. Junto a fita uma placa dizia algo tipo: "senhores clientes, desculpem o incomodo, mas POR LEI estamos PROIBIDOS de vender roupas femininas aos domingos." Oi???

- Cinemas aqui, só com filmes dublados. Filmes legendados nao existem. Alguns poucos cinemas, geralmente mais caros, passam os filmes em versao original em Ingles ou em qual seja a lingua do filme. Fora que os filmes demoram mais de um mes para serem lancados no cinema, acho que eles precisam do tempo para dublar... A TV tambem nao tem SAP. Ou voce assiste em Alemao, ou nao assiste.

- Quer ver o clip novo da Lady Gaga no Youtube? Fica querendo. Tudo aqui é bloqueado. Na busca sequer aparece o link, e quando um amigo posta alguma coisa no facebook, por exemplo, e voce clica, aparece a mensagem no youtube dizendo: esse conteudo esta indisponivel em seu pais.

Tem muito mais... Mas continuo em um outro post.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Briga de Alemães

Há pouco mais de um mês atrás, fui passar uma noite a beira do mar Alemão. Pra quem não sabe, a Alemanha só tem conexão com o oceano pelo norte do país. Essa conexão é dividia ao meio pela conexão com a Dinamarca. O que fica a esquerda da Dinamarca é chamado de Nordsee, e a direita é chamado de Ostsee. Pois bem, fui ao Ostsee. Uma cidadezinha chamada Heiligendamm, num hotel 5 estrelas onde há alguns anos aconteceu o encontro do G8. Fui convidado por um Alemão (que aqui vou chamar de A., pra facilitar), claro, afinal ainda não tenho como bancar uma viagem de luxo. E fomos de moto.
Passamos uma noite, na manhã seguinte tomamos nosso Frühstück, fechamos a conta: 712 Euros para duas pessoas. Conta paga, a recepcionista agradeceu, nos deu balinhas de presente, etc... E no final de toda essa mise-en-scène, ela diz para o A., num tom super natural: "Ah, é o senhor que está de moto? Ontem tivemos um pequeno acidente, um de nossos funcionários derrubou a sua moto. Se o senhor puder esperar, eu vou chamar o gerente e ele vai conversar com o senhor pessoalmente." E ela falou tudo isso com a mesma cara de aeromoça simpática de sempre.
Chegamos perto da moto, alguns arranhões, nada muito sério, problemas estéticos. O A. estava putíssimo e com razão, afinal tinha acabado de gastar 700 euros num hotel de luxo e descobriu que tinham derrubado sua moto na noite anterior e ninguém falou nada com ele. E vale ressaltar aqui que ele é louco por motos, e pela sua moto então... Mas daí que o gerente chegou, eles conversaram totalmente amigáveis, num tom de voz calmíssimo e super cordiais um com o outros. O A. soltava de vez em quandíssima uma ironia. O gerente se desculpou em nome do hotel, explicou que seria impossível questionar todos os hóspedes de quem era aquela moto, e que o seguro pagaria tudo, etc.
Então o gerente saiu para providenciar a papelada, e o A. estava simplesmente puto. Dizia que era um absurdo, que estava decepcionado, etc, etc, etc. Mas tudo de uma forma muito contida e civilizada. E eu pensava cá comigo: se fosse eu, já estaria gritando e estapeando alguém! Rodando a baiana, dando bafão...
Engraçado isso, essa diferença. A frieza dos Alemães se manifesta em qualquer sentimento, seja amor ou ódio. Brasileiros são barraqueiros, gritam, fazem confusão. Alemães são calmos e civilizados. Não sei se isso é vantagem ou desvantagem. Só sei que é bem diferente.
A papelada foi providenciada, os dois apertaram as mãos e nós fomos embora. E nunca mais se falou sobre o assunto.

terça-feira, 24 de maio de 2011

"Quem fala demais dá 'bom dia' a cavalo"

Metrô de Berlin, numa segunda-feira qualquer. Senta ao meu lado um grupo de brasileiros, um cara e cinco meninas. Riam e falavam alto, em bom português. O cara falava mal de todo mundo e as meninas riam e comentavam.
"Nossa, que bolsa baranga. Essas Alemãs, meu deus do céu... Não tem nenhum senso de moda. E aquela ali, com um cabelo metade rosa, metade loiro, metade raspado? Cruzes! Só tem doidão nessa cidade. Doidão e baranga. Isso sem falar o tanto de turco!"
E assim foi, por alguns minutos. Até que ele me olhou e me escolheu como alvo.
"Ah nem, viu! Eu venho do Brasil esperando pra ver homens altos, loiros, magros... E vejo isso! Um cara baixinho, gordinho, moreno e de cabelo escuro. Deve ser turco. Se eu quisesse ver turcos, eu ia pra Istambul! Decepcionado... Esperava mais da Alemanha. E as roupas? Nada combinando com nada! Amigo, se você passasse uma tarde comigo eu te daria umas aulinhas de moda. Porque vamo combinar, tá precisando hein. Banho de loja, corte de cabelo..." E assim foi, por pelo menos uns bons 10 minutos.
Chega a minha estação, e eu viro pra ele e digo em um Português limpo, claro, perfeito e polido "Você pode me dar licença, por favor, que eu preciso descer?" Ele ficou pálido, e suas amigas se dobravam de rir. Ele tentou gaguejar alguma coisa e eu disse somente "obrigado" e fui até a porta. A porta se abriu, eu virei pra trás e disse "aproveite Berlin, você vai gostar daqui." E segui meu caminho.

sábado, 14 de maio de 2011

Amor, Love, Liebe... E o que se perde na tradução.

Talvez a experiência mais inusitada que vivi até agora em outro país foi a de me envolver com alguém. Dizem que a linguagem do amor é universal, mas sou obrigado a discordar dessa afirmativa. Depois de 2 meses e meio em Berlin, percebi que ter um relacionamento por aqui é uma tarefa difícil, ainda mais para um Brasileiro.
Venho de um país onde as pessoas são calorosas e intensas. Gostam de abraçar, se apaixonam a primeira vista, em questão de dias já estão envolvidos até o pescoço com o outro. No Brasil, as pessoas se olham, flertam, conversam umas com as outras. Em Berlin é outra história. Aqui as pessoas são frias, secas e individualistas. Pelo menos no primeiro contato. E o jeito "brasileiro" de ser assusta, e assusta muito aos alemães. Flerte em balada acontece, mas não é como eu estou acostumado. É uma coisa mais formal e mais fria. E o jeito mais fácil de conseguir alguém por aqui é por um website chamado GayRomeo, seja para uma simples trepada, seja para casar e construir uma vida. Todo gay aqui tem um perfil no site, e é lá que eles se soltam... Algo tão impessoal e ao mesmo tempo tão indispensável para eles.
A língua é outra barreira. Eu ainda não falo muito bem Alemão, e gente que fala Português por aqui é algo raro. Mesmo Português de Portugal. Então as conversas tem de ser desenvolvidas em Inglês. Da pra imaginar a confusão, afinal essa não é a língua materna de nenhum dos dois lados - nem eu nem eles. É óbvio que muito se perde na tradução. Talvez por não saber uma palavra, talvez por não saber como se expressar. Ou talvez pelo simples fato de tentar dizer algo e o outro entender um algo completamente diferente. Algo comum em uma comunicação, e que pode ser severamente agravado em uma comunicação estrangeira.
O background é mais um fator que pode ajudar ou atrapalhar tudo. Se dois brasileiros podem ter backgrounds completamente diferentes, imagine um brasileiro e um alemão... Coisas e ações que para mim são normais e perfeitamente compreensíveis, podem ser completamente anormais para eles. E aqui volto a bater na tecla de como os brasileiros são intensos e calorosos. Com meu último namorado, em uma semana juntos já estávamos namorando, conhecendo os amigos e as famílias e trocando juras de amor. Aqui talvez você passe uma vida inteira com alguém sem que nada disso aconteça. E isso é normal pra eles. E se você falar cedo demais em paixão, relacionamento, compartilhar, prepare-se para que eles te olhem com a cara de interrogação e te cortem com um balde de água fria. Isso num cenário positivo, pois pode acontecer do alemão se assustar e sair correndo. E nunca mais te dar notícias.
Por um lado, tenho tido extrema dificuldade em me adaptar a esse estilo de vida afetiva. Eu sou um cara romântico e carinhosos, gosto de fazer o cara que está comigo feliz, gosto de dar presentes, fazer surpresas. E parece que por aqui isso é mais um defeito que uma qualidade. Mas por outro lado, eu já estou começando a entender a forma dos alemães lidarem com o coração e talvez já esteja sendo absorvido pelo sistema deles. Vejo meus amigos brasileiros me falaram sobre paixões instantâneas e avassaladoras no primeiro encontro e já tem uma parte de mim que me diz "que absurdo, no primeiro encontro?" Até uns dias eu era assim. E agora eu tenho que jogar de acordo com as regras daqui. E tem horas que eu até penso que faz algum sentido.
Ainda tenho muito a aprender por aqui, mas nem tudo está perdido. Dizem que o sonho de todo alemão é se casar com um brasileiro. Que eles procuram nos brasileiros o que eles não encontram nos outros alemães. Pode ser que a melhor ideia é me adaptar ao jeito daqui, sem perder o meu jeito de lá. Ser um meio termo entre o alemão e o brasileiro, tentando preservar as melhores características dos dois lados. Porque acima de tudo, eu não quero mudar. Eu não quero deixar de ser um cara fofo e carinhoso. Então o melhor caminho pra mim é continuar sendo o brasileiro intenso, mas com meus momentos de alemão frio e distante. E aprender essa língua logo, pra derrubar mais uma barreira.
Na verdade, ainda tenho muito pra aprender e percorrer aqui. Ainda estou no começo da caminhada. E se vai dar tudo certo? Não sei, isso só o tempo vai dizer.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Só uma partida de futebol. Ou não.

Desde que cheguei a Berlin, tenho pensado sobre a escolha de um time de futebol para torcer. Sou torcedor do Galo no Brasil e da Seleção da Alemanha no mundo. Mas na Bundeslinga (a liga nacional de futebol alemão) eu ainda não tinha um time. E como adotei Berlin como minha cidade, nada mais justo que torcer para um time de Berlin. Escolha feita, sou torcedor do Hertha BSC.
Não vou entrar em pormenores da história do time (porque na verdade eu não sei), mas pra quem quiser se inteirar do assunto: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hertha_Berliner_Sport-Club (pt) e http://en.wikipedia.org/wiki/Hertha_BSC (en). Acho importante ressaltar que o Hertha atualmente está na segunda divisão, mas já garantiu a vaga para a primeira divisão no próximo ano. Também acho importante destacar a paixão dos alemães pelo futebol. Dizem que o Brasil é o país do futebol, mas depois que cheguei aqui fiquei um pouco na dúvida sobre isso. Acho que a paixão aqui é tão grande como no Brasil. Mas claro, eles a manifestam de uma forma bem alemã de ser: comportados, frios e organizados.
Pois bem, na semana passada fui ao meu primeiro jogo de futebol desde que estou em Berlin. Pela primeira vez no Olympiastadion - o estádio olímpico de Berlin - e pela primeira vez num jogo do meu recém amado clube Hertha. E foi o primeiro jogo do Hertha em casa, desde que eles garantiram a subida para a primeira divisão. A experiência foi muito interessante, e devo dizer, completamente diferente de ir a um jogo no Brasil. A principal razão, acredito eu, é por ter sido convidado por um amigo para a área vip do estádio. Sim, o estádio tem uma área vip. Mesmo para um jogo de segunda divisão, existe uma área vip com um tratamento vip.
Desde antes da entrada no estádio as coisas já são diferentes. Engarrafamento de carros em direção ao estádio, mas de uma forma organizada. Estacionar os carros e/ou motos com segurança e sem os flanelinhas enchendo o saco. Buscar os ingressos já comprados pela internet ou mesmo comprar ingressos, tudo em filas organizadas. No caso dos ingressos da internet, as filas são divididas por nomes. Ao entrar no estádio, pessoas te revistam mas sem estresse. O caminho até o local onde está o assento (sim, assentos marcados em setores definidos!) é tranquilo, sem torcedores brigando ou criando confusão. E na hora de entrar na área vip, pulserinhas.
Para antes e/ou intervalo do jogo, existe um restaurante com mesa de frios, pratos quentes e diversas bebidas: água, alcoólicos, não alcoólicos, cafés variados... Os banheiros parecem banheiros de shopping: Limpos e cheirosos. Dificil de acreditar que estava em um estádio de futebol. Pelo menos nos estádios em que eu estava acostumado.
Talvez o que não seja muito diferente é a paixão durante o jogo. O grito da torcida, as comemorações, ver a torcida balançando e vibrando a cada jogada. O Hertha perdeu de 2 a 1, mas valeu pela experiência. E valeu também o por do sol, depois do jogo, atrás do Olympiastadion.




quarta-feira, 27 de abril de 2011

Propagandas

Talvez ao contrário do senso comum, quando eu vou a outro país eu me interesso pelas coisas mais simples. Os pontos turísticos são legais, as cidades, os lugares. Mas eu acho mesmo interessante andar pelos supermercados e ver quais os produtos são diferentes, aquelas marcas que tem outro nome... Outra coisa legal são as propagandas. Duas propagandas especialmente me chamaram a atenção, ambas no metrô de Berlin. Uma dentro do trêm e outra na parede de uma estação. E ainda: ambas de óculos e/ou lentes de contato. Obviamente eu tirei fotos...

Essa aí tava dentro do trêm. Só tenho uma pergunta: como assim? Esse anúncio é errado em diversas formas. Um porco-espinho comendo uma escovinha de limpeza? Ok, me arrancou algumas risadas, tenho que admitir... Mas seria mais adequado a um cartoon que a uma propaganda. Pensa comigo, se você fosse o dono dessa loja/empresa, o que você pensaria de colocar uma propaganda dessas dentro do metrô, onde circulam diversas pessoas diariamente - entre elas, crianças! Mas vamos ao próximo.



Se eu pudesse resumir essa propaganda em uma palavra, seria Imbecil. Sério, o publicitário responsável por essa campanha não deve ter um curso de publicidade nas costas. Deve ser aquele cunhado do dono que sabe mexer no mspaint... As duas fotos iguais borradas, a comparação (blind date x hot date!) as cores... Tudo tá errado nessa propaganda. Essa não me fez rir, só me fez pensar como tem gente estúpida nesse mundo.


Pelo visto, ser pulicitário em Berlin é uma tarefa fácil. Quem sabe, se tudo der errado, eu não acabo me candidatando a um cargo na área de Marketing? Porque melhor que isso, com certeza eu posso fazer!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ich komme aus Brasilien

Essa frase provoca reações por aqui. Geralmente ela é pronunciada - por mim - em uma mesma situação: eu estou gagejando algo que se parece com Alemão. A pessoa, ao perceber que eu não falo muito bem a língua, me pergunta de onde eu venho. E eu respondo: Ich komme aus Brasilien. Ou eu venho do Brasil.
As reações são as mais diversas: alguns me olham espantados, como se eu tivesse acabado de descer de um disco voador. Talvez porque aqui eles estão acostumados a ver gente da União Européia, dos Estados Unidos, dos países árabes (tem MUITOS turcos em Berlin), asiáticos, latinos. Também tem muitos brasileiros aqui, mas acho que os alemães de Berlin eles não sabem muito sobre o Brasil. É uma realidade distante da deles. Geralmente os que não tem olham com cara de ET fazem algum comentário sobre samba, futebol ou praia. Ou tudo isso junto.
Outros simplesmente não ligam. Ah, você é mais um que veio tentar a vida em Berlin. Muita gente vem tentar a vida aqui. É uma das cidades mais baratas pra se viver na Europa, quando se trata das principais e mais conhecidas cidades. Viver em Berlin é incrivelmente mais barato que Londres e Paris, e completamente mais interessante que Roma, Madrid e Lisboa. Aqui é a cidade dos artistas, dos pirados, dos musicos... Pichação e grafite fazem parte da decoração da cidade, e todo mundo acha isso cool. Hippies que vivem de vender artesanato, artistas que tocam no metrô em troca de moedas... Todo dia chega mais alguem querendo viver aqui.
Muita gente já me disse que é uma cidade pobre e sempre em movimento. Não da pra ganhar muito dinheiro por aqui, e sempre tem gente chegando e gente saindo. Quem sai vai tentar a vida em outro lugar, porque aqui já não deu mais... Mas não dá pra generalizar, quando se trata de um lugar tão grande e policultural como Berlin.
Eu acabei de chegar, ainda sou um turista. Mas de vez em quando me pego dando informações de ruas e lugares. Algumas vezes em meu Alemão macarrônico. Mas devagarzinho a cidade vai me incorporando, e jajá eu viro parte disso aqui. Como as pedras, as árvores, o rio Spree, a Fernsehturm. E como tudo aqui é lindo... Mas isso eu ainda vou contar. Por agora, só preciso completar a frase:
Ich komme aus Brasilien. Aber jetzt wohne ich in Berlin.